Referências Neurodivergência

LIVROS SUGERIDOS

  • Júlio-Costa, A., Starling-Alves, I., & Moreira Antunes, A. (2023). Leve pra quem? Transtorno do Espectro Autista nível 1 de suporte (1ª ed., 272 p.). Editora Ampla.
    Resenha:
    Leve pra quem? Transtorno do Espectro Autista nível 1 de suporte oferece uma abordagem clara e objetiva sobre as características centrais do TEA nível 1, voltada tanto para famílias quanto para profissionais da área de saúde e educação. Dividido em seções que abordam desde critérios diagnósticos até estratégias de intervenção, o livro descreve de forma acessível os principais desafios de comunicação, socialização e flexibilização comportamental apresentados por crianças e adolescentes que necessitam de suporte mínimo.

Os autores combinam fundamentação teórica com exemplos clínicos e relatos de familiares, ilustrando como pequenas adaptações no ambiente escolar e doméstico podem promover avanços significativos na autonomia e bem-estar desses indivíduos. Ao enfatizar práticas pautadas no desenvolvimento de habilidades socioemocionais e na promoção da autorregulação sensorial, o texto destaca a importância de intervenções precoces, de ajustes pedagógicos e do trabalho colaborativo entre educadores, terapeutas e cuidadores.

Além disso, há orientações práticas para o manejo de situações cotidianas—como rotinas de estudo, interações sociais e preparo para transições—sempre ressaltando o respeito às características individuais e à perspectiva neurodiversa. Ao final, oferece recursos adicionais (listas de leitura, contatos de associações e sugestões de aplicativos) que facilitam o acompanhamento e a continuidade do suporte. Em suma, trata-se de um guia conciso e prático, ideal para quem busca entender melhor o TEA nível 1 e adotar intervenções fundamentadas e eficazes.

  • Price, D. (2024). Autismo sem máscara: Uma jornada de autodescoberta e aceitação. NVERSOS. ISBN 978-8554862619.

    Em Autismo sem máscara, Devon Price aprofunda o fenômeno do “mascaramento” em pessoas no Espectro do Autismo, especialmente aquelas que, muitas vezes, permanecem invisíveis por meio da adaptação compulsória a comportamentos neurotípicos. Ao longo de narrativas pessoais e de relatos de outros indivíduos autistas, o autor ilustra como essa estratégia de camuflagem—envolvendo supressão de estereotipias, desempenho forçado de expressões faciais e esforço contínuo para “parecer normal”—gera uma sobrecarga emocional intensa. Price explora tanto as raízes sociais desse mecanismo (pressão para se encaixar em ambientes que não acolhem a diferença) quanto suas consequências, como níveis elevados de ansiedade, depressão e exaustão, além do atraso diagnóstico em populações que mascaram eficazmente seus traços.

O livro também se dedica a revisar estudos acadêmicos que mapeiam o impacto do mascaramento na saúde mental e oferece exercícios práticos para que o leitor reflita sobre suas próprias estratégias de adaptação. Price defende que o processo de “desmascarar” não significa simplesmente abandonar todas as tentativas de se comunicar, mas sim encontrar maneiras autênticas de existir sem forçar o apagamento de quem se é. Por fim, a obra lança um convite à sociedade para reconhecer a riqueza da neurodiversidade, defendendo que compreender e apoiar pessoas autistas “sem máscara” é fundamental para reduzir o estigma e promover ambientes verdadeiramente inclusivos.

  • Inderbitzen, S. M. (2024). Autism in Polyvagal Terms: New Possibilities and Interventions (Norton Series on Interpersonal Neurobiology). W. W. Norton & Company.

    Em Autism in Polyvagal Terms, Sean M. Inderbitzen apresenta o diagnóstico de autismo sob a ótica de um sistema nervoso alterado, aplicando os princípios da Teoria Polivagal à compreensão das características comportamentais e emocionais de pessoas no espectro. O autor, que é terapeuta e também indivíduo autista, argumenta que muitas manifestações clínicas associadas ao TEA podem ser interpretadas como respostas automáticas de um organismo que percebe ameaças constantes, passando a viver em um estado crônico de “alerta” (hiperatividade simpática) ou “congelamento” (ativação vagal dorsal). Ao longo dos capítulos iniciais, Inderbitzen descreve como a neurocepção (processo inconsciente de avaliação de segurança) falha em fornecer sinais claros de proteção a muitos autistas, resultando em níveis persistentes de ansiedade, sensibilidade sensorial e dificuldade de autorregulação.

    A partir dessa base neurofisiológica, o livro propõe uma série de intervenções práticas voltadas ao fortalecimento do ramo vagal ventral—responsável pela promoção da segurança, da conexão social e do estado de repouso-ativação saudável. São discutidas estratégias como entrevistas motivacionais adaptadas (motivational interviewing), psicoterapia sensório-motora (sensorimotor psychotherapy), práticas de mindfulness e técnicas de biofeedback, todas orientadas pela ideia central de ajudar o cliente autista a acessar, gradualmente, um “sentimento de segurança” mais estável durante as sessões. Inderbitzen ilustra o uso desses métodos por meio de estudos de caso que incluem desde crianças até adultos, mostrando como ajustes sutis na postura do terapeuta, na seleção de estímulos ambientais (luz, som, toque) e na dinâmica de atividade conjunta podem desinflamar padrões de estresse crônico e, com isso, diminuir comportamentos de fuga, estereotipias e bloqueios de verbalização.

    Ao final, o autor enfatiza que “desmascarar” não é simplesmente expor vulnerabilidades, mas criar condições para que o sistema nervoso autista compreenda, através de sinais coerentes de segurança, que não está “sob ataque” a cada interação social. Dessa forma, Autism in Polyvagal Terms oferece um manual acessível a profissionais de saúde mental e educação, bem como a familiares, ao reunir embasamento neurocientífico, relatos pessoais e exercícios práticos que promovem a expansão do ramo vagal ventral. O resultado é uma visão renovada de intervenção, que enxerga o autista não como um “problema a ser corrigido”, mas como alguém cujo sistema nervoso demanda, antes de tudo, reconhecimento sensorial e neuroafetivo para alcançar flexibilidade e bem-estar.