Shutdown
Mais um dia….
Emoção e desespero cruzam velozes minha intenção de que fosse diferente. Nesse momento, o amor, golpeado sem piedade, está sem voz. Mudo, ele grita o grito mais alto do mundo. Eu não consigo alcançar… acho que não sei o caminho… Talvez nunca saiba… isso assusta. Um suspiro fica preso na garganta… entre súplica e exaustão…
A alma sussurra: — É impossível. Lágrimas surgem, mas as reprimo, com receio de transbordar, pesar demais e aprofundar ainda mais a distância.
Fecho os olhos e vejo uma imagem… Na imagem, eu estendo a mão e a alcanço. Puxo-a para perto de mim. O ruído desaparece, e a emoção entra. Só que eu já aprendi: assim não funciona.
Se puxar… se forçar um pouquinho a mais, se levantar o volume, eu a perco… às vezes por instantes, às vezes bem mais… Dói… É confuso…
Fico em suspenso… o tempo passa…
De repente, em algum momento, a perspectiva gira… a cena muda:
Mãe e filha… separadas por uma barreira de vidro. Podem se ver, mas não estão no mesmo lugar. A mãe tem as mãos espalmadas contra a superfície fria; seus dedos pressionam o vidro numa tentativa de se comunicar. Seus olhos refletem em súplica a angústia de estar sem respostas, sem dar-se conta de que ela é quem está presa — ela está na caixa. A filha observa a mãe com expressão intrigada, mas postura serena — ela parece não entender completamente aquela barreira invisível que as separa. E, honestamente, não sei se alguém entende.
Olho mais uma vez, dessa vez com mais atenção. Percebo fragmentos quebrados do vidro aos pés da filha. A filha quebrou a caixa…
Não sei o tamanho da jornada, não sei bem os desafios, se os mares são calmos ou revoltos. Não sei dos perigos que vamos encontrar. Eu piso, um dia após o outro, às vezes pé ante pé, às vezes correndo com pé na porta; por vezes em silêncio, como se nem estivesse lá…
Uma mãe buscando o caminho…
Junho de 2025
Uma carta para minha mãe
Mãe, eu não estou sozinha. Eu sei que você está aí! Não precisa tanto sofrimento. O mundo é barulhento, eu sei - ele me machuca, muitas vezes… mas será que precisamos mesmo achar um caminho?
Será que só existir não nos basta?
Mãe, derruba esses muros. Eles estão dentro de ti, não entre nós. Não tenha medo. Eu não me importo de não encaixar, não tem caixa, nem tamanho, nem limites, eu apenas sou.
Mãe, não te preocupa, eu não vou embora… estou aqui do lado de fora da caixa. Eu não tenho pressa. Eu estou aqui te esperando.
Não te preocupa mãe, eu te amo! Você vai quebrar sua caixa também.
Com amor e paciência,
Sua filha
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