The Person with the Mind (ou: o retorno do Ser humano)
The Person with the Mind
(ou: o retorno do Ser humano)
Uma visão dessa história — por dentro e por fora.
Há algum tempo acharam que seria uma boa ideia classificar o sofrimento humano.
Criaram definições, agruparam pessoas com manifestações parecidas e — voilà! — nasceram critérios, categorias, etiquetas: depressão, ansiedade, TOC, TDAH, transtornos de personalidade...
Não me entendam mal: há méritos e conquistas nisso.
Mas, convenhamos — quando se trata de compreender um ser humano, sua jornada e sua biologia complexa — corpo, mente e espírito incluídos —, sinto muito: falha miseravelmente.
Você já se olhou de verdade?
Já tentou juntar as peças do quebra-cabeça — cérebro, coração, intestino, hormônios, sistema imune, comportamento?
Está tudo ligado. Sempre esteve.
A armadilha foi achar que dava pra separar.
Não fomos nós que deixamos de ser inteiros — foi a ciência que fingiu que dava pra simplificar.
E, bem… deu ruim.
A boa notícia é que o caminho de volta existe.
De volta a nós mesmos.
Ao que é de verdade.
Ao que ainda podemos tocar — com a mão, ou com a percepção.
Mas atenção: a resposta não está no mundo das ideias.
A mente adora passear por lá, mas não dá mais tempo de se perder.
Vivemos na realidade.
Tudo em nós se comunica — entre si, com os outros, com o mundo.
É hora de ter coragem de voltar a ser inteiro.
Num mundo que corre veloz,
mas derrapa em cada curva em estereótipos e simplificações.
É hora de olhar para as coisas como elas são — e partir daí.
O que diria o(a) especialista?
Um olhar por dentro.
O retorno do Ser humano: os limites da psiquiatria das categorias e a necessidade de integração
A história recente da psiquiatria foi marcada pela tentativa de descrever e classificar os sofrimentos psíquicos em categorias diagnósticas.
Esse esforço — consolidado nos manuais modernos (DSM, CID) — trouxe ganhos importantes em pesquisa, comunicação clínica e acesso a tratamentos.
No entanto, também produziu uma visão fragmentada do humano: um “recorte útil” que, ao se tornar hegemônico, acabou se distanciando da experiência real das pessoas.
As neurociências e a biologia contemporânea têm mostrado que corpo, cérebro e mente não são sistemas independentes, mas dimensões interligadas de um mesmo processo dinâmico — afetivo, imunológico, endócrino e relacional.
A separação entre “orgânico” e “psicológico” é, portanto, uma simplificação metodológica: necessária em certo momento histórico, mas epistemologicamente limitada.
Retomar a inteireza do humano implica resgatar a complexidade.
Reconhecer que sintomas não são apenas disfunções, mas expressões de processos adaptativos; que mente e corpo compartilham circuitos regulatórios; que emoções são eventos biológicos e que o metabolismo é, em si, linguagem emocional.
O desafio contemporâneo não é criar novas categorias, mas voltar a olhar o humano como totalidade viva — sistêmica, sensível e encarnada.
O futuro da psiquiatria não está em multiplicar diagnósticos, mas em reaprender a ver.
Referências
• Engel, G. L. (1977). The need for a new medical model: A challenge for biomedicine. Science, 196(4286), 129–136. https://doi.org/10.1126/science.847460
• Panksepp, J. (1998). Affective Neuroscience: The Foundations of Human and Animal Emotions. Oxford University Press.
• Northoff, G. (2019). The spontaneous brain: From the mind–body to the world–brain problem. MIT Press.