Depois do colapso:onde parar de lutar é o início🌙
“Tem gente que não está cansada — está quebrada. E ainda assim, continua funcionando.”
Essa frase poderia abrir muitos prontuários.
Registros clínicos.
Diários que nunca foram escritos.
Mas também poderia abrir conversas.
Reencontros.
Choros de alívio.
Muita gente chega à exaustão sem nunca ter percebido que precisava descansar.
Funcionou em alerta por tanto tempo — cuidando, criando, aguentando — que o corpo esqueceu como é desligar.
Esqueceu o tom do repouso.
Esqueceu onde fica o botão de pausa.
E quando finalmente tenta...
não consegue parar.
A mente gira.
O pensamento acelera.
O mundo dentro perdeu o ciclo, o ritmo, o jogo de luz.
Às vezes, o silêncio da noite assusta mais do que o cansaço do dia.
Outras vezes, é o único lugar que ainda parece familiar.
De um jeito ou de outro,
não se consegue parar a noite —
mas também já não é possível energizar os dias.
Quando descansar assusta
Quando descansar assusta, o descanso chega atrasado.
Não entra.
Não encaixa.
E vira colapso.
A exaustão que o mundo chama de preguiça.
A insônia que não melhora com remédio, porque não é só o sono que falta — é segurança interna.
Às vezes, o que o mundo vê como calma...
é só o pálido reflexo de uma guerra travada por dentro, por tempo demais:
para corresponder, sobreviver, não deixar morrer.
Muitos de nós aprendemos que sobreviver só era possível funcionando o tempo todo.
Com medo de que um único piscar de olhos significasse perder algo que nos faltaria para sempre.
Não nos ensinaram que estava tudo bem.
Ninguém disse, de verdade, que ia ficar bem.
E a gente seguiu...
caminhando por campos minados invisíveis, com a respiração suspensa.
Nunca houve autorização para apenas ser.
Não.
Ninguém nos ensinou isso.
A verdade é que muitos de nós nunca tivemos a experiência de ser vistos sem o filtro da expectativa, do julgamento, um vislumbre do olhar do amor incondicional.
Não nos pertencia quando viemos a este mundo.
Por isso, não podemos parar — não viemos de fábrica com porto seguro, com a autorização de descansar…
Mas...
mesmo isso também se aprende. Mesmo que, às vezes, só depois de tudo desabar.
É bem aí...
Bem quando parece que não tem mais saída, quando nada que funcionava antes resolve mais, que existe uma chance inusitada:
É aí, no meio dos escombros, com tudo quebrado, no silêncio ensurdecedor de não saber o que sempre nos faltou, que podemos encontrar, finalmente, a experiência de ser vistos.
A sabedoria que sussurra que está tudo bem… nós podemos apenas SER.
Não, não é tarde demais.
Ainda dá tempo.